Como reconhecer uma expressão idiomática
Recognizing expressions
Como definir uma expressão idiomática ?
A expressão idiomática pode ser definida como uma unidade sintáctica, lexicológica e semântica. O seu significado não pode ser calculado pelos significados das palavras contidas numa expressão e apresenta uma distribuição única ou muito restrita dos seus elementos lexicais. As particularidades das expressões idiomáticas abrangem dois vectores: a forma (a EI é constituída por um grupo de palavras) e o conteúdo (o significado idiomático).
Existe uma grande pletora terminológica associada a estas construções lexicalizadas. Será que essas várias terminologias - idioma, construção fixa, construção cristalizada, frases feitas, lugares comuns, expressões proverbiais, locuções verbais, expressões lexicalizadas, expressões populares - dão conta do mesmo objecto?
Uma análise atenta e minuciosa dos dicionários de fraseologia existentes para o português, mostra a dificuldade em restringir as terminologias acima enunciadas. Assim, um mesmo objecto (expressão) aparece referido pelas várias terminologias.
Como distinguir a expressão idiomática das outras construções lexicalizadas?
Tomaremos como pólos de comparação a expressão idiomática e o provérbio. Os provérvios, bem como as expressões idiomáticas, são unidades codificadas, que denominam um conceito geral e têm um sentido convencional. O provérbio exprime uma verdade geral, uma situação genérica, uma relação independente das situações particulares. Este estatuto de frase genérica e verdade geral permite distingui-lo das frases idiomáticas. A expressão idiomática actualiza-se no discurso. Por outro lado, a expressão idiomática não veícula uma moral, uma verdade, mas descreve, complementa, torna mais expressiva uma determinada atribuição ao sujeito ou a uma determinada situação.
A expressão idiomática poderá ser polissémica, poderá apresentar vários sentidos?
Na medida em que a expressão idiomática se actualiza no discurso, o seu sentido pleno também só se actualiza inteiramente quando a expressão aparece contextualizada numa dada situação. E poderão sugerir variações em função dos contextos. Por outro lado, existem variações de ordem regional de tipo semântico.
O grau de lexicação será idêntico em todas as expressões idiomáticas?
As expressões idiomáticas não apresentam todas o mesmo grau de lexicação. Algumas expressões poderão permitir algumas variações (por exemplo a introdução de intensivos ou diminutivos, de advérbios, modificações do tipo de frase...) enquanto outras estão completamente lexicalizadas e não permitem nenhuma modificação ou inserção de qualquer elemento.
As expressões idiomáticas permitem algum tipo de variações morfológicas (género, número, substituições)?
As variações morfológicas e as substituições de ordem lexical permitidas pelas expressões idiomáticas são raras (excepto variantes regionais ou variantes sinonímicas - ex.: cantar de galo / de poleiro; deitar / lançar areia / poeira para os olhos). As variações de género e número dificilmente encontram eco nas expressões. No entanto existem variações morfológicas que incidem no verbo que introduz a expressão, neste caso essa variação verbal adapta-se ao contexto.
Quais os problemas de tradução que levantam as expressões idiomáticas?
A tradução das expressões idiomáticas (intralíngua ou interlínguas) exige do tradutor um conhecimento profundo da língua materna e da língua estrangeira. Traduzir não corresponde sempre a uma procura de equivalentes linguísticos (no caso das expressões, tais equivalências raramente sugerem uma outra expressão) ... Traduzir expressões idiomáticas é ter em conta a especificidade de cada tipo de texto, mas também a especificidade de cada língua, de cada povo, os seus usos e costumes, a sua expressividade.
Como se adquirem as expressões idiomáticas? O processo será idêntico na língua materna e numa língua estrangeira?
Na língua materna, as expressões idiomáticas adquirem-se no contacto directo com a língua, na socialização do indivíduo. Não existe uma aprendizagem deste tipo de estruturas. No entanto, a partir dos cinco ou seis anos, as crianças começam a usar algumas expressões e, a partir daí, continuarão a enriquecer o seu dicionário mental. Para a língua estrangeira, o processo será idêntico às outras estruturas linguísticas, mas dificultado pela especificidade das expressões idiomáticas. Como não existe emersão linguística e o sujeito não pode aprender estas estruturas pelo contacto directo com a língua, tem de recorrer ao processo de ensino/aprendizagem e armazenar no seu dicionário mental as tais “palavras” plurais.